O marxismo de C. L. R. James

Historiador, jornalista, ensaísta e militante socialista de Trinidad e Tobago, foi um dos fundadores do movimento independentista Agência Internacional de Serviços Africanos e do pan-africanismo radical, tendo atuado também pelos partidos estadunidenses Socialist Workers Party e Workers Party Por Rita Coitinho e Joana A. Coutinho * James, Cyril Lionel Robert, “C. L. R. James”, “J. R. Johnson”, “J. Mayer” (trinitário; Tunapuma/Trinidad e Tobago, 1901 – Londres/Inglaterra, 1989). 1 – Vida e práxis política Nascido em Trinidad, então colônia inglesa, Cyril Lionel Robert James cresceu num ambiente familiar de classe média e afeito aos livros, sendo seu pai professor e sua mãe uma leitora ávida. Estimulado pelos pais, cedo desenvolveu o gosto pela literatura, história e música, além do esporte e artes em geral – interesses que se revelariam, posteriormente, como temas importantes de seus estudos e reflexões filosóficas. Entre os nove e os dezessete anos frequentou, com bolsas de estudos, o Queen’s Royal College, em Porto de Espanha, escola de elite das mais antigas da ilha que recebia professores diretamente da Inglaterra. Aí se destacou como atleta de salto em altura e treinou críquete (modalidade em que foi reconhecido como promissor)1. Na década de 1920, após a conclusão de seus estudos, trabalhou como professor do ensino secundário de Inglês e História (tendo como aluno o futuro primeiro-ministro marxista Eric Williams). Por esses anos, ainda em seu país natal, escreveu dois romances: La divina pastora (1927) e Triumph (1929). Com o tempo seus interesses também se voltaram para a política, e desta aproximação inicial nasceu em 1929 a biografia do líder trabalhista de Trinidad, Arthur Cipriani, intitulado Life of captain Cipriani [A vida do capitão Cipriani]. Em 1932, aos 31 anos, migrou para a Inglaterra, país no qual viveu inicialmente em Lancashire – desfrutando do auxílio do amigo e campeão de críquete Learie Constantine. Nesta cidade, trabalhou como repórter esportivo para o jornal Manchester Guardian, enquanto, simultaneamente, mantinha-se articulado aos movimentos de libertação nacional das colônias britânicas no Caribe. É de 1933 a publicação do panfleto The case for West Indian self-government [O caso do autogoverno nas Índias Ocidentais], uma extensão do seu trabalho anteriormente publicado acerca de Arthur Cipriani. Tendo logo se mudado para Londres, deu início a estudos das obras de Marx e Engels, bem como acerca da Revolução Russa e seus principais teóricos. Em 1934, ingressou no Independent Labour Party [Partido Trabalhista Independente], atuando na comunicação interna e ajudando a formar o Marxist Group [Grupo Marxista]. No ano seguinte, com Yomo Kenyatta e Amy Ashwood-Garvey, fundou a International African Friends of Abyssinia (IAFA) [Internacional dos Amigos Africanos da Abissínia], cuja agitação política intensa provoca preocupação no fascismo italiano, em franca disputa pelo domínio da Etiópia. Em 1937 este coletivo passou a ser dirigido pelo comunista trinitário George Padmore (1903-1959) – intelectual que exerceu forte influência junto a James, de quem ele destacaria a importância na elaboração do termo “negritude” e o fato de ter inspirado os principais movimentos de libertação no continente africano. Juntos, fundam o International African Service Bureau (IASB) [Agência Internacional de Serviços Africanos], celeiro dos movimentos de independência das colônias britânicas após a II Guerra Mundial – ficando James responsável pela imprensa2. Em 1938, James foi convidado por James Cannon – secretário do Socialist Workers Party (SWP) [Partido Socialista dos Trabalhadores] dos Estados Unidos – para atuar como especialista da IV Internacional em questões africanas, afro-americanas e coloniais. Estabeleceu uma longa relação com Leon Trótski, com quem chegou a se encontrar em 1939, em Coyoacán (México), para conversar sobre temas como as perspectivas de uma política voltada aos negros e sua relação com o projeto revolucionário. Por volta de 1941, junto com a marxista eslava radicada nos Estados Unidos, Raya Dunayevskaya, começou a formar a tendência Johnson-Forest, reunindo trotskistas estadunidenses3. Em 1947 este grupo se associou ao Workers Party (WP) [Partido dos Trabalhadores]. Contudo, já em 1950 James rompeu com esta tendência – e com o trotskismo. No ano seguinte, formou o Correspondence Publishing Committee [Comitê Editorial de Correspondência], que passaria a publicar um jornal operário – o Correspondence [Correspondência]. Por meio deste comitê, manteve conexões internacionais com projetos semelhantes, como o Socialisme ou Barbarie [Socialismo ou Bárbarie] da França. James permaneceu nos Estados Unidos até 1952, militando na clandestinidade, até ser preso por “atividades antiestadunidenses”. Saiu do país antes de ser deportado4. Após deixar os EUA, James manteria ainda intensa troca de correspondência com os integrantes do Correspondence, com vistas a orientá-los, principalmente depois que Raya Dunayeskaya deixou o grupo, em 1955. Destas cartas surgiram as bases teóricas que dariam origem à Ligue of Revolutionary Black Workers [Liga Revolucionária dos Trabalhadores Negros], criada nos EUA em 1969. Em 1955, James se casou com Selma Deitch, uma militante do grupo que, junto com Maria Rosa Dalla Costa, lançou a campanha internacional a favor de estabelecer um salário para o trabalho doméstico. Em certa medida, as posições que James expressou nessa época anteciparam as da chamada New Left (o movimento Nova Esquerda), que surgiria décadas depois. Ao longo dos anos 1950 e 1960 James esteve algumas vezes no continente africano e, em 1958, viveu no Caribe. É deste ano seu texto “Facing reality” [“Encarando a realidade”], no qual revela sua desilusão com os partidos comunistas e com o trotskismo. Durante os anos em que esteve de volta a sua terra natal, trabalhou na biografia de George Padmore, descrito por ele como o espírito orientador do African Bureau [Diretório Africano] e o pai da “emancipação africana”. Em 1963, publicou Beyond a boundary [Para além da fronteira] obra em que analisa questões vinculadas à estética e à educação vitoriana desde uma perspectiva do habitante das “índias ocidentais”. No final dos anos 1960, a convite de socialistas e expoentes do movimento negro estadunidense, James regressou aos EUA, e ao longo da década de 1970 deu palestras e aulas em universidades como professor convidado. São deste tempo obras como Radical America (1970) e a biografia de Kwame Nkrumah (1960-1966) – Nkrumah and the Ghana Revolution [Nkrumah e a RevoluçãoContinuar lendo “O marxismo de C. L. R. James”