O marxismo de Diego Rivera

Artista plástico, ensaísta e ativo militante político, foi um dos maiores pintores muralistas mexicanos, tendo sido membro do Partido Comunista del México e, por breve período, da IV Internacional Por Felipe Santos Deveza e Marina Mainhard * RIVERA, Diego (mexicano; Guanajuato, 1886 – Cidade do México, 1957) 1 – Vida e práxis política Nascido em Guanajuato, sendo filho de Maria e de Diego Barrientos Rivera, Diego Maria de la Concepción Juan Nepomuceno Estanislao de la Rivera y Barrientos Acosta y Rodríguez nasceu na região central da cidade. Porém, devido a recomendações médicas e suspeitas de desnutrição, logo foi viver no interior montanhoso próximo, ficando aos cuidados de Antonia, sua babá ou “nana indígena”, conforme narra em suas memórias1. Interessou-se pelo desenho desde muito pequeno. Recuperado pelo clima das montanhas e pelo zelo de Antonia, retornou aos cuidados de sua mãe e seu pai. Professores de formação, seu pai era funcionário municipal e sua mãe se dedicava as atividades domésticas de uma casa abastada. A família Rivera era tipicamente mestiça e com diversas origens, tendo antepassados indígenas e europeus. Aos 6 anos foi morar na Cidade do México, onde seus pais e familiares teriam papéis importantes na sua educação. Aprendeu a ler e escrever com uma tia-avó, até que foi matriculado em uma escola católica. Esta experiência lhe provocou uma repulsa, desde a infância, pela religião. Aos 10 anos começou a ter aulas noturnas de arte na Academia de San Carlos e um pouco depois já frequentava a escola de arte em tempo integral. Teve uma formação mais artística que escolar convencional. Foi durante esse período que conheceu o famoso gravador José Guadalupe Posada – quem, com obras publicadas em jornais e livros, popularizou a imagem das caveiras mexicanas (as catrinas2). Ao completar 20 anos, conseguiu uma bolsa de estudos para viajar à Espanha e conhecer o ambiente acadêmico da pintura europeia. Viveu 14 anos na Europa, dez deles com Angelina Beloff, uma pintora de origem russa com quem se casou e morou em Paris. Teve um filho com ela, que morreu de meningite ainda bebê. Durante seu período europeu (1907-1921) conheceu Picasso, as obras de Cézanne e os artistas do bairro de Montparnasse, podendo experimentar as tendências artísticas que estavam florescendo, como o cubismo e o pós-impressionismo, que lhe renderam um relativo reconhecimento em Paris. Para ganhar a vida, especializou-se em copiar obras conhecidas e o estilo dos autores, vendendo seus quadros no mercado da falsificação. Esse período lhe rendeu um grande aprendizado, o qual mais tarde empregaria em suas mais célebres obras. Diferentemente de outros muralistas, Diego não se envolveu nas batalhas da Revolução Mexicana (1910-1920). Em 1921 ele foi convidado por José Vasconcelos (1882-1959), secretário de Educação do governo pós-revolucionário de Álvaro Obregón (1920-1924) para decorar as paredes de prédios públicos com obras que ajudassem a contar a história do país. Embora desejasse refundar a cultura nacional, Vasconcelos buscava na Europa referências para o renascimento cultural mexicano, e Diego foi escolhido por seu reconhecimento artístico nos salões parisienses. Após os anos na Europa, em 1921 ele desembarcou no porto de Veracruz. Por essa época se separou de Belloff, e em 1922 se casou com Guadalupe Marin (1895-1983), com quem teria duas filhas – Ruth e Guadalupe Rivera Marin. Como muitos outros modernistas latino-americanos, seria a partir do retorno da experiência europeia que Diego redescobriria o México, perceberia a exuberância de suas cores, a plástica da vida cotidiana e as imagens da Revolução, com suas tropas populares, de grandes sombreiros e pesadas cartucheiras, inspirando novos tipos, formas e temas. Trabalhando na Secretaria de Educação, procurou retratar festas populares, cenas do cotidiano de trabalhadores, e foi evoluindo para composições relacionadas à luta de classes e pela terra. O retorno de Diego Rivera ao México ocorreu nos anos de fundação e início da construção do Partido Comunista de México – no embalo da Revolução Bolchevique (1917) –, e ele foi imediatamente atraído para o centro do partido, criando uma unidade entre a atividade artística dos muralistas e a atividade política comunista. Em 1928, Diego se separou de Guadalupe, e logo começou sua relação com Frida Kahlo, que conhecera enquanto pintava a gigantesca obra mural que decora o edifício da Secretaría de la Educación Pública, no centro da Cidade do México. Com Frida – que buscava referências entre os pintores mais politizados da época e passou a acompanhar o seu trabalho – Diego viveu um intenso relacionamento, até a morte dela em 1954. Ele, por sua vez, se tornou um grande admirador dos quadros da companheira. No ano seguinte (1929), eles se casaram, e conforme demonstram suas cartas, diários e registros, Frida e Diego foram muito parceiros, embora ela nunca tenha deixado de expor suas opiniões, mágoas e críticas ao marido. Entre 1923 e 1928, quando concluiu o famoso mural “Arsenal” – em que aparecem Frida Kahlo e Tina Modotti distribuindo armas aos revolucionários –, Diego Rivera daria uma nova orientação às obras murais, superando a ideia de caráter didático da simples ilustração da história mexicana, para as inúmeras tentativas alegóricas de representar nos murais a luta de classes. No final da década de 1920, os governos do Maximato (série de governos controlados pelo ex-presidente Calles) perseguiram o PCM e o mantiveram na ilegalidade. Diego Rivera, que nessa época já era uma importante figura pública, conservaria seus contratos com o governo, sendo assim acusado por comunistas de colaborar com a “nova burguesia mexicana”. Isolado, Diego aceitou realizar alguns murais nos Estados Unidos, onde a sua obra ganhou notoriedade internacional. Após pintar murais na Califórnia e em Nova Iorque com temas variados, em 1932 ele começou a pintar um mural no Rockfeller Center, prédio central de icônico magnata capitalista estadunidense. Desde o início este mural foi polêmico, já que juntava o mais famoso artista comunista da época a uma das mais icônicas sedes dos capitalistas. Em meio à maior crise econômica dos Estados Unidos e ao clima de conciliação das políticas do New Deal, do governo Roosevelt (1933-1945), este fato seria interpretadoContinuar lendo “O marxismo de Diego Rivera”