Veias Abertas nº1 | 2019 – Apresentação

Veias Abertas é um espaço crítico aberto à diversidade de ideias e lutas que se faz presente no debate teórico socialista. Editada pelo Núcleo Práxis de Pesquisa, Educação Popular e Política da Universidade de São Paulo, e tendo seu nome inspirado na obra clássica de Eduardo Galeano, a publicação periódica abarca variados temas da vasta gama de conhecimentos das ciências históricas (historiografia, educação, economia etc) e das disciplinas filosóficas.

“QUATRO DIAS PRA FILMAR E QUATRO ANOS PRA MONTAR E SINCRONIZAR”

O filme Câncer de Glauber Rocha foi filmado em agosto de 1968 e montado e sincronizado em maio de 1972. Ao incorporar o tempo de sua realização na forma, esta obra, por meio dos dois últimos estágios de sua realização, efetua uma crítica ao movimento cultural e político de 1968, época da captação de suas cenas. A partir da defesa da experimentação na arte, bandeira tropicalista, o diretor Glauber Rocha efetua uma inflexão formal, a fim de expressar a mudança política e cultural após o Ato Institucional número 5 (AI-5) – que agravou a repressão da ditadura militar no Brasil.

ENTRE A SAÚDE CONCRETA E A SAÚDE ABSTRATA

O texto discute a necessidade de reposicionar a teoria marxista no campo da saúde, diferenciando entre um “Marx exotérico” (público, mais conhecido), vinculado à modernização capitalista, e um “Marx esotérico” (menos conhecido), cuja crítica ultrapassa os limites da civilização capitalista. Argumenta que, no modo de produção capitalista, a saúde torna-se mercadoria e adquire um duplo caráter: saúde concreta (dimensão humana e biológica) e saúde abstrata (saúde funcional ao valor e à produtividade do trabalho). A crítica a Dejours evidencia que, embora seu conceito de saúde envolva autonomia e bem-estar, ele mantém uma ontologia do trabalho que não problematiza sua forma capitalista. Assim, a realização plena da saúde é inviabilizada pela lógica do valor, da mercantilização e da organização do trabalho, que submete o corpo ao tempo abstrato e à extração de mais-valor. Conclui que uma política de saúde realmente emancipatória só pode existir para além da forma mercadoria.