Farmacêutico, jornalista, editor e radialista, foi dirigente político e um dos primeiros teóricos do Partido Comunista do Brasil (PCB) Por Gilberto Maringoni e Paulo Alves Junior * BRANDÃO REGO, Octávio (brasileiro; Viçosa/AL, 1896 – Rio de Janeiro/RJ, 1980) 1 – Vida e práxis política Octávio Brandão nasceu e passou seus primeiros anos em Viçosa, cidade do interior de Alagoas, núcleo de uma região produtora de açúcar dominada por oligarquias agrárias e com pouco desenvolvimento social. Segundo suas memórias, sua formação se deu no seio de uma “pequena-burguesia urbana empobrecida”, que embora adepta de ideias progressistas, era vítima do poder de grandes proprietários rurais “semifeudais”. A morte da mãe, quando Brandão tinha apenas quatro anos, o afetou muito. A partir daí viveria com um tio, em uma pequena casa tipicamente cabocla, no engenho do Barro Branco, regressando à Viçosa só quando seu pai voltou a se casar. Frequentou a Escola Silva Jardim, no ensino fundamental, na qual teria um primeiro contato com ideias evolucionistas, por meio de um professor. Em 1911, quando já morava com outro tio em Maceió – estando matriculado no Colégio Marista –, ficou órfão também de seu pai, homem de ideias republicanas e progressistas. Apesar de criado em um meio conservador católico, rompeu com a religião aos 16 anos, influenciado pela educação paterna, que lhe incutira o questionamento à hipocrisia social; este foi um marco emocional e intelectual dessa fase de sua vida na capital alagoana. Além disto, a percepção da situação de miséria da maior parte da população e o impacto das notícias da Revolta da Chibata (1910) e das greves operárias no Sudeste atraíram cada vez mais sua atenção para os graves problemas do país. Entre 1912 e 1914, residiu na capital pernambucana, onde se diplomou na Escola de Farmácia do Recife (atualmente parte da Universidade Federal de Pernambuco). Logo após a formatura, regressou a Maceió. Ali tomou contato com as principais obras da literatura universal e desenvolveu um agudo interesse científico, o que o fez se voltar para as ciências naturais. Aos 20 anos, empreendeu uma série de viagens pelo interior de seu estado para conhecer sua formação geológica e riquezas naturais. Baseado nestas pesquisas, em 1916 começou a escrever Canais e lagoas (publicado em 1919) – livro que descreve o complexo hídrico Mundaú-Manguaba e pode ser visto como uma das primeiras pesquisas ecológicas brasileiras. Sobre o tema, pronunciou também diversas conferências em Maceió, mostrando evidências da existência de petróleo na região e desde cedo observando a importância que poderia ter a prospecção petrolífera para a economia brasileira. No ano de 1918, começou a escrever para imprensa anarquista – colaborando com o Diário de Pernambuco e tendo fundado o jornal O Povo. À época, vinculou-se também a movimentos de trabalhadores urbanos e rurais, defendendo a jornada de 8 horas e a reforma agrária. Foi preso pela primeira vez em 1919. Depois de libertado, passou a ser perseguido, o que o fez partir, no mesmo ano, para o Rio de Janeiro – onde residiria até 1931, quando foi forçado a deixar o país. Na capital da República, travou contato com o mundo intelectual e político, em especial com Astrojildo Pereira (1890-1965) – que viria a ser um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil (PCB), em março de 1922. Ali, o alagoano se mostraria impressionado com as mobilizações operárias, tendo se aprofundado nos estudos sobre a Revolução Russa. Passou então a escrever nos jornais anarquistas A Plebe, A Vanguarda e na Revista do Brasil (de São Paulo, dirigida por Monteiro Lobato), colaborando ainda com o Spartacus e o Imparcial (Rio de Janeiro), além da revista alemã Ekenntnis und Befreiung [Reconhecimento e Liberação]. Com tais atividades, teve acesso à literatura marxista que chegava ao país – e vem desses tempos sua desilusão com o anarquismo e sua rápida adesão às ideias de Marx e Engels. Em 1920, passou a integrar o integrar o Grupo Comunista Brasileiro Zumbi. Casou-se no ano seguinte com a poetisa e sua companheira de lutas, Laura Fonseca da Silva. Embora não seja um dos fundadores do PCB, Octávio Brandão acompanhou seu desenvolvimento desde o início. Aderiu ao Partido, a convite de Astrojildo, em outubro de 1922. Logo se tornaria dirigente (membro da Comissão Central Executiva) e começaria a estudar metodicamente os clássicos marxistas. No período, adquiriu uma pequena farmácia, estabelecimento que viria a ser uma espécie de escritório e ponto de encontro de militantes populares. Suas pesquisas sobre a Revolução Bolchevique de Outubro resultaram no livro Rússia proletária, escrito neste mesmo ano. Em 1923, já integrando o Comitê Central do Partido, empreendeu uma ousada tarefa: traduzir para o português o Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels – a partir da edição francesa revisada pelo próprio Engels. No mês de julho do ano seguinte, explodiu em São Paulo uma revolução que tinha como objetivo derrubar o governo do presidente Arthur Bernardes (1924-28) – que manteve um Estado de sítio permanente ao longo de todo o mandato. Perseguido pela repressão, Octávio Brandão viveria na ilegalidade entre 1924 e 1926, mantendo-se atento aos acontecimentos. Em uma tentativa de dar resposta às questões políticas levantadas pela insurreição, ainda em 1924 redigiu grande parte de sua mais importante obra, Agrarismo e industrialismo – elaborada com colaboração da direção do PCB –, a qual seria complementada e publicada dois anos depois sob o pseudônimo de Fritz Mayer (usado para despistar a polícia). Em 1925, Brandão foi um dos fundadores e o primeiro editor de A Classe Operária, órgão oficial do PCB. À época, ministrou também cursos de teoria política para grupos de operários, em um paciente trabalho de formação, além de fazer panfletagens e vários discursos em manifestações públicas. Em 1927, tornou-se editor-chefe do diário A Nação – que difundia as ideias comunistas entre os trabalhadores. No mesmo ano, com Astrojildo Pereira e outros dirigentes e ativistas, fundou o Bloco Operário, fachada legal do Partido (então na clandestinidade) – uma organização legal e de massas, cujo nome, em 1928, passou a ser Bloco Operário eContinuar lendo “O marxismo de Octávio Brandão”
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Dictionary Marxism in America: a historical rescue of militant memories
After decades of collective work, public access is now available to a series of publications that brings back the historical memory of the first Marxists in the Americas
Dictionnaire Marxisme en Amérique : une récupération historique de mémoires de lutte
Cette œuvre rend compte de la vie, de la pensée et de la praxis politique des premiers marxistes des nations américaines. Nous la rendons publique après des années de travaux collectifs.
Diccionario marxismo en América: un rescate histórico de memorias combativas
Luego de media década de trabajo colectivo, se empieza a publicar esta obra que registra la vida, el pensamiento y la práctica política de los primeros marxistas de las naciones americanas Por Yuri Martins-Fontes, Joana Coutinho, Pedro Rocha Curado, Felipe Deveza, Paulo Alves Jr. y Solange Struwka * [Traducción del portugués: Claudia Marcela Orduz Rojas y Yodenis Guirola] El Diccionario marxismo en América es una obra de recuperación histórica de la memoria de los primeros pensadores y militantes que, desde el referente teórico del materialismo histórico, se dispusieron a reflexionar y enfrentar los problemas sociales, políticos y económicos de las nuevas naciones americanas, iniciando el desarrollo del pensamiento-lucha marxista en el continente. Obra educativa y crítica de características inéditas, especialmente en lengua portuguesa, el proyecto es coordinado por el Núcleo Práxis de Pesquisa, Educação Popular e Política de la Universidade de São Paulo –organización que se dedica a actividades políticas y de educación popular– y cuenta actualmente con casi un centenar de investigadores voluntarios, de diferentes países, en esta investigación arqueológica sobre los orígenes del marxismo en las Américas. Los primeros tomos, previstos para más de mil páginas, contienen entradas que abarcan biografías y ensayos sobre las ideas y la praxis política de unos 150 marxistas que vivieron, escribieron y actuaron en los países americanos – en un período que va desde el siglo XIX (formación del marxismo en el continente), hasta la década de 1970 (cuando se agudiza la crisis estructural capitalista y se multiplican los marxismos). Por ahora, después de media década de esfuerzos colectivos, el diccionario marxista comienza a hacerse público gradualmente: sus entradas pueden leerse libremente en línea, en forma de “artículos”, disponibles periódicamente en el portal del Núcleo Práxis-USP y luego republicadas por destacados portales asociados. Esta degustación preliminar —del primer volumen, relativo al período de formación del marxismo en América— se extenderá a lo largo de los próximos dos años con el objetivo tanto de divulgar la obra (cuyo objetivo no es sólo teórico, sino también educativo), como de brindar espacio para lecturas críticas y posibles mejoras de los textos, antes de llegar al público en formato de libro. Próximamente, la publicación completa será editada por las Edições Práxis en coedición con la Editora Expressão Popular, y tendrá dos ediciones: una impresa (a precios populares) y otra digital (gratuita). Comienzos de la obra En 2015, los fundadores del Núcleo Práxis-USP, entre encuentros políticos y debates del Grupo de Estudios sobre el Marxismo (uno de sus primeros proyectos), pensaron en ampliar las actividades del colectivo hacia la educación popular. Era un momento difícil, en que se gestaba el golpe de Estado en Brasil, el cual se concretó al año siguiente. En ese contexto, se consideraron dos nuevos proyectos: un foro de discusión sobre derechos sociales (que se creó un poco más tarde, en colaboración con asociaciones y comunidades de la ciudad de São Paulo); y una antología, crítica y didáctica a la vez, que reuniera ensayos de destacados marxistas latinoamericanos, con el fin de ofrecer a estudiantes y trabajadores un panorama de las teorías y prácticas marxistas desarrolladas en nuestra América. En ese proceso, el coordinador general del Núcleo Práxis, Yuri Martins-Fontes, en una reunión en el Laboratorio de Economía Política e Historia Económica de la USP presentó la idea al profesor Wilson do Nascimento Barbosa, quien dirigía las investigaciones de la entidad. En una tarde de diálogo, la idea se afinó y amplió. En lugar de una antología, con artículos complejos, que tendería a restringirse al territorio académico —se pensó: ¿por qué no juntar más esfuerzos y producir una obra más grande, una publicación educativa, de referencia, con textos más cortos pero que lograra presentar la gran diversidad de problemas y corrientes del marxismo desarrolladas por más de un siglo a lo largo del continente —un libro que pudiera servir no solo a los estudios secundarios y universitarios, sino también contribuir a la formación política de los jóvenes socialistas? La semilla estaba plantada. El proyecto fue escrito y presentado a una prestigiosa editorial, que requirió una entrada, como ejemplo. El coordinador respondió a la solicitud, elaborando un primer texto sobre Mariátegui, basado en el modelo que había desarrollado recientemente en su tesis sobre el marxismo latinoamericano (luego publicada como Marx na América: a práxis de Caio Prado e Mariátegui). La editorial aprobó la publicación, aunque destacó que en ese momento no podía dedicarse a la producción del proyecto. La realidad nacional – económica, social, cultural- que no era favorable, pronto se deterioró. El Núcleo Práxis-USP contaba entonces con poco más de una decena de miembros, pocos de los cuales estaban dispuestos a emprender la aventura. Sin apoyo material, o como mínimo estructural, el plan fue archivado. El Renacimiento En 2018, el Núcleo Práxis experimenta un período de crecimiento como resultado del dinamismo en torno a sus proyectos —en particular el Grupo de Estudios (que entonces leía El Capital, de Marx), la traducción colectiva Historia y Filosofía (selección de Caio Prado Júnior, publicada en 2020 en Argentina), y el Fórum de Formação Política de Lideranças Populares (cuyas conversaciones periódicas reunían a educadores y líderes comunitarios). Muchos militantes —investigadores de diferentes áreas, universidades y países —se suman al colectivo. Con este movimiento de expansión, la organización gana aliento y fuerza para considerar nuevas acciones. Las reuniones sobre posibles rumbos se sucedieron hasta que es aprobado el propósito de construir una publicación periódica: una revista política de carácter popular, que ofreciera a estudiantes y trabajadores una voz discordante en aquel ambiente fascista que reverberaba en el país —una época de creciente irracionalidad, si no apoyada, sí consentida por los grandes medios de comunicación y demás fuerzas neoliberales, irritadas por las reformas sociales (básicas) de los gobiernos populares. Nuestra experiencia con publicaciones periódicas era escasa —limitada a unos pocos miembros que, en la década de 2000, durante algunos años, habían editado el tabloide A Palavra Latina. Por otra parte, el buen momento del colectivo se notaba en la propia intención, manifiesta por varios de los participantes, de implicarse en un proyecto periódico de largo plazo. Hay un ir y venir de propuestas y debates hastaContinuar lendo “Diccionario marxismo en América: un rescate histórico de memorias combativas”
O marxismo de Ricardo Martínez de la Torre
Jornalista, contador, editor e historiador do movimento operário peruano, o intelectual marxista foi parceiro de Mariátegui na revista Amauta e fundador do Partido Socialista del Peru (depois nomeado Partido Comunista del Peru) Por Jean-Ganesh Faria Leblanc * MARTÍNEZ DE LA TORRE, Ricardo (peruano; Lima, 1904 – s/l, 1968) 1 – Vida e práxis política Nascido em 1904, Ricardo Martínez de la Torre teve como pais Ricardo Martínez (um engenheiro espanhol) e Juana de la Torre. Sua família materna, com uma longa linhagem de membros das elites de Lima, descende de Juan de la Torre, companheiro de Francisco Pizarro. Desde jovem, Martínez de la Torre demonstrou um precoce talento literário. Estudou inicialmente no jesuítico Colegio de la Inmaculada, e fez o ensino médio no Colegio Nacional de Nuestra Señora de Guadalupe, onde conheceu algumas das figuras literárias do momento, como Gamarra Hernández. Aos onze anos, em 1915, ele escreveu a novela Tragedia: o la noche misteriosa – e enviou alguns poemas para um jovem jornalista e crítico literário em ascensão colaborador do jornal La Prensa, José Carlos Mariátegui. A partir de então, os dois construirão uma amizade que levará Mariátegui a frequentar a casa dos Martínez – chegando inclusive a viver uma platônica paixão pela pintora Juanita Martínez de la Torre, irmã mais velha de Ricardo. Apesar da distância que os separa durante a estadia europeia de Mariátegui (entre 1919 e 1923), a relação de carinho e proximidade se manteve, como mostram os vários cartões-postais endereçados ao jovem Martínez, desde a Itália. Na universidade, estudou contabilidade e, logo de formado, obteve emprego como caixeiro, na corretora de seguros La Popular, na capital do país. Próximo ao movimento estudantil, Martínez testemunhou as grandes manifestações de 1918-1919 e a primeira greve geral da história peruana. Como outros membros da juventude pequeno-burguesa, frequentou círculos operários e estudantis que estavam na vanguarda das lutas e do movimento social liderado pelos primeiros sindicatos e pela Federação dos Estudantes. Dessa conjunção nasceria a Universidad Popular Manuel González Prada, na qual Mariátegui pronunciou os primeiros discursos marxistas para o público limenho, nos anos de 1923 e 1924. Desde então, Martínez de la Torre frequentou a casa de Mariátegui e suas tertúlias, que agregavam artistas, operários e intelectuais, lendo textos marxistas e se formando politicamente. Como muitos jovens politizados da época (Eudocio Ravines, Jorge del Prado, Manuel Seoane, Carlos Manuel Cox), Martínez acompanhou os esforços editoriais e organizativos de Mariátegui na primeira metade da década de 1920, assim como a criação da Aliança Popular Revolucionaria Americana (APRA), liderada por Víctor Raúl Haya de la Torre – líder estudantil de Lima, então desterrado no México. Esses jovens intelectuais e militantes formaram a “Geração do Centenário” (referência à Independência), da qual surgiram os primeiros quadros do partido comunista e do partido aprista. Em 1927, Martínez de la Torre foi chamado por Mariátegui para ajudá-lo na revista Amauta, lançada no ano anterior, na qual assumiu o cargo de gerente – uma função em que desempenhou importante trabalho para a estabilização financeira do projeto. Martínez assumiu então a codireção do periódico e organizou, a partir de 1928, a Sociedad Editora Amauta, que abarcava atividades editoriais e jornalísticas; além da revista, o grupo liderado por Mariátegui lançou o jornal Labor. Paralelamente à sua atividade na direção, Martínez colaborou firmemente com a publicação por meio de artigos, como “El movimiento obrero en 1919” (1928), e “La teoria del crecimiento de la miseria aplicada a nuestra realidad” (1929), entre outros; com mais de uma dezena de artigos, o autor seria um dos colaboradores mais prolíficos da revista. Membro importante do grupo mais próximo de Mariátegui, ele participou diretamente das polêmicas que provocaram a cisão da APRA em 1928, e das reuniões que decidiram pela criação do Partido Socialista del Perú (PSP), entre setembro e outubro do mesmo ano – que seria depois denominado Partido Comunista del Peru (PCP). A ação militante tomou desde então uma porção grande da atividade de Martínez de la Torre. Implicado tanto no Partido (como secretário de Propaganda), quanto na recém-nascida Confederación General de los Trabajadores del Perú (CGTP), à época ele se corresponderia com mineiros das grandes minas de cobre e prata da Sierra Central – para apoiá-los em seus esforços de organização sindical e política. Ademais, Martínez preparou com Mariátegui os documentos para serem enviados para as duas grandes conferências convocadas pela Internacional Sindical Vermelha, em Montevidéu, em maio de 1929, e pela Internacional Comunista (IC), em Buenos Aires, em junho de 1929. Esses documentos foram longamente discutidos na conferência de Buenos Aires, com debates girando em torno do nome do Partido (que de início, devido à correlação de forças no Peru, deveria ser “Socialista”, não “Comunista”); e das características do imperialismo. A posição do partido foi defendida por seus dois representantes, o médico Hugo Pesce e o sindicalista Julio Portocarrero, com base no documento, em grande medida redigido por Mariátegui, que ambos apresentaram – intitulado “El problema de las razas en América Latina”. A morte de Mariátegui, em abril de 1930, aconteceu em um momento de efervescência da atividade do Partido, com a queda do governo de Augusto Leguía e uma dura luta política contra a APRA. Martínez, em contato direto com a Secretaria Sul-Americana da IC, membro do Comitê Executivo do PCP, tesoureiro do Partido e secretário da Liga Anti-Imperialista no Peru, assumiu também a direção da revista Amauta, publicando ainda três números dela – antes de que a atividade editorial fosse definitivamente interrompida. Ele teve, portanto, uma função importante na direção política do movimento, em particular nos esforços de massificação entre os proletários mineiros da região serrana e nos debates sobre a estruturação nacional da CGTP. Contudo, logo a saúde de Martínez de la Torre limitaria suas tantas atividades: com uma crise no final de 1930 e outra em 1931. Convidado pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos para lecionar Economia marxista, não pôde desempenhar o trabalho, sendo preso em junho de 1931, acusado de fazer propaganda política. Para protestar contra a sua prisão, Martínez começouContinuar lendo “O marxismo de Ricardo Martínez de la Torre”
O marxismo de Ricardo Paredes Romero
Médico, escritor, político, intelectual e dirigente comunista, foi fundador do Partido Comunista del Ecuador, desempenhando um papel central no desenvolvimento do marxismo equatoriano Por Vitor Vieira Ferreira e Yuri Martins-Fontes * PAREDES Romero, Ricardo (equatoriano; Riobamba/Equador, 1898 – Quito, 1979) 1 – Vida e práxis política Ricardo Paredes Romero nasceu na capital do estado andino de Chimborazo, situado no centro do território equatoriano. Seu pai foi Alejandro Paredes Pérez, um funcionário do Ministério da Economia que faleceu quando ele tinha apenas 4 anos. Sua mãe, María Romero Gallegos, comerciante, teve a incumbência de criar sozinha os quatro filhos. Desde cedo, Ricardo Paredes demonstrava sua inconformidade ativa perante as injustiças que vivenciava e observava. Ainda adolescente, organizou-se junto a um grupo de colegas para protestar contra os castigos a que os estudantes eram submetidos no colégio jesuíta San Felipe Nery, onde estudou entre 1908 e 1913. Em virtude desta reivindicação, em que se chegou a ocupar a reitoria da escola (demandando a demissão de professores que cometiam excessos), ele foi expulso, além de preso por um dia para interrogatório – tendo de cursar seu último ano em outro estabelecimento de ensino. Em 1914, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidad Central de Quito. A formação acadêmica e profissional contribuiu em diferentes aspectos para sua conscientização social, sobretudo no que diz respeito a sua inclinação por conhecer mais a fundo as questões políticas de seu país. Ao longo do curso, Paredes demonstrou especial interesse em estudar os danos causados pela sífilis em mulheres grávidas e em seus filhos, tópico que seria central em suas pesquisas. Durante a graduação, tais casos foram acompanhados de perto por ele, em suas visitas aos hospitais de Quito; com isto, pôde logo perceber que se tratava da expressão de um grave problema epidemiológico que acometia a cidade à época. Seus estudos médicos não se limitaram a um trabalho de análise técnica, mas buscaram causas socioeconômicas. Para além de investigar como a bactéria responsável pela doença atuava no organismo e quais eram seus sintomas ou possibilidades de tratamento, ele pesquisou a sífilis enquanto problema social – como uma questão historicamente situada que impactava a vida cotidiana de um grande número de indivíduos, especialmente aqueles dos estratos sociais mais pobres. De modo mais amplo, deu-se conta do vínculo entre a epidemia e as contradições socioeconômicas da população equatoriana, passando a estudar as possibilidades de atuação do Estado no combate à enfermidade. Então, sua preocupação passaria a ser com o tipo de infraestrutura de saúde pública à qual a população tinha acesso, com as formas de se garantir a oferta de tratamentos e medidas profiláticas adequadas. Graduou-se como médico aos 23 anos, em 1921, e a partir daí passou a exercer sua profissão – mais especificamente como ginecologista, empenhando-se no combate às doenças venéreas. Em paralelo à medicina, Paredes começara a se dedicar às leituras políticas, o que viria a lhe abrir as portas para a militância. Ao longo dos primeiros anos da década de 1920, concentrou-se em aprofundar seu conhecimento humanístico e filosófico – tendo contato com obras de Voltaire, Rousseau, Marx, Engels e Lênin, além de publicações socialistas produzidas na União Soviética. A realidade desigual de seu país se colocava como um elemento catalisador de seu espírito crítico e transformador, sobretudo com os acontecimentos de novembro de 1922, quando centenas de trabalhadores em greve foram assassinados pelo Exército equatoriano, em Guaiaquil. De 1922 a 1923, ministrou aulas de Biologia na mesma universidade em que se formara, além de instalar um consultório médico no Centro da capital. Em novembro de 1924, junto a alguns companheiros, lançou a revista La Antorcha, que funcionaria como um veículo de contestação da política do então presidente, o liberal José Luis Tamayo. No ano seguinte, este periódico passou a se chamar La Antorcha Socialista, tendo contribuído com a construção do Partido Socialista Ecuatoriano (PSE) – que seria fundado em 1926. Ainda em 1925, Paredes promoveu a formação de um grupo de socialistas em Guayas, estado cuja capital é Guaiaquil. Atuou então junto aos mentores da chamada Revolución Juliana – um movimento opositor à plutocracia vigente, levado a cabo por civis e militares que, mesmo sem chegar ao conflito armado, depuseram com um golpe de Estado o presidente Gonzalo Córdova (julho de 1925), substituindo-o por uma junta de governo. Esta revolução foi uma etapa importante para o movimento socialista nacional – havendo impulsionado medidas contra grandes capitalistas e latifundiários. Nesse mesmo ano, o comunista mexicano Rafael Ramos Pedrueza (1897-1943) visitou o Equador, com a função de organizar, junto a operários e intelectuais, um agrupamento comunista; foi então criada a Sección Comunista de Propaganda y Acción ‘Lenin en Quito’. Paredes estabeleceu contato com Pedrueza e, embora tenha se mantido independente desse grupo, viria a afirmar depois que já se “considerava um comunista”. Consciente da necessidade de envolver camponeses no movimento revolucionário, Paredes passou a se empenhar na construção de um movimento comunista em Cayambe, ao norte de Quito. Conheceu assim o líder comunitário Jesús Gualavisí, quem, no início de 1926 – ao lado da líder indígena socialista Dolores Cacuango – liderou um levantamento popular pelo direito das populações indígenas locais à posse das terras em que viviam. O protesto, ainda que reprimido, foi uma importante semente para a luta autóctone e camponesa. Paredes convidou então Gualavisí para participar da Asamblea Socialista, que ocorreria em Quito, com vistas à fundação de um partido socialista. Assim, em maio deste mesmo ano, com a participação de grupos socialistas de várias partes do país, seria constituído o Partido Socialista Ecuatoriano – tendo Ricardo Paredes como um de seus representantes provinciais no Conselho Central. Por seu papel de protagonismo, Paredes foi convidado a participar do VI Congresso da Internacional Comunista (IC), realizado em Moscou, em 1928, na qualidade de representante do PSE. Tal visita de dez meses à URSS significou para o comunista equatoriano uma tomada de consciência que lhe marcaria por toda a vida – o que se pode ler em seus artigos publicados à época nos periódicos LlamaradasContinuar lendo “O marxismo de Ricardo Paredes Romero”
O marxismo de Maurice Spector
Jornalista, editor, advogado, dirigente político, foi fundador do Partido Comunista do Canadá, com o qual depois romperia, passando a promover a Oposição de Esquerda Internacional, de linha trotskista Por Sean Purdy, Pedro Rocha Curado e Argus Abreu de Morais SPECTOR, Maurice (russo-ucraniano-canadense; povoado desconhecido/Império Russo, 1898 – Nova Iorque/Estados Unidos, 1968). 1 – Vida e práxis política Maurice Spector nasceu na região ocidental do Império Russo, território da atual Ucrânia. Filho de um pequeno comerciante e de uma dona de casa, ainda bebê imigrou com a família para o Canadá. Já na adolescência, entrou para o movimento socialista, filiando-se ao Social Democratic Party [Partido Social-Democrata] do Canadá e começando a escrever artigos para seu jornal, The Canadian Forward [A Vanguarda Canadense]. Com vinte anos de idade, ele leu a tradução ao inglês do texto “Os bolcheviques e a paz mundial” (1914), de Leon Trótski – posteriormente editado com o título “A guerra e a Internacional”. Durante sua graduação em Direito na Queen’s University (Kingston, Canadá), Spector teve contato com as obras de Lênin e de outros comunistas russos e europeus. Entre 1918 e 1921, junto a camaradas socialistas – como Florence Custance e Thomas J. Bell –, organizou um coletivo de propaganda, a Plebs League [Liga dos Plebeus], e um grupo de formação política, o Toronto Workers Educational College [Faculdade dos Trabalhadores de Toronto], este último comandado por Jack MacDonald. Essas duas agremiações, contando com o apoio da Internacional Comunista (IC), estiveram entre as principais forças políticas que se reuniram na cidade de Guelph (Ontário) com o objetivo de formar o Communist Party of Canada/ Parti communiste du Canada (CPC) [Partido Comunista do Canadá], em 1921 – do qual o jovem Spector foi um dos fundadores. Como ocorreu em muitos países à época, o intelectual e socialista canadense, antes membro de um partido social-democrata com referências marxistas vagas, foi bastante influenciado pela Revolução Russa (1917). Segundo ele, a conquista do poder pelos bolcheviques tinha levado à criação de um novo tipo de socialismo, melhor fundamentado nas ideias de Karl Marx e Friedrich Engels – e tendo como prioridade a formação de partidos revolucionários ao redor do mundo. Eleito presidente do recém-nascido CPC, Spector escreveu seu primeiro programa partidário, juntamente com seus camaradas Custance e Tom Bell. Além disso, ajudou a estabelecer a base organizacional, intelectual e política da nova entidade comunista que, até 1925, chegou a organizar 5 mil militantes – tendo influência decisiva em importantes greves e mobilizações sociais. Teve também uma participação importante quando atuou como interlocutor da direção do partido junto às “Federações Nacionais”, as quais eram compostas por imigrantes membros do CPC, divididos em seus respectivos grupos nacionais, que constituíam a maioria da militância partidária. No período de 1921 a 1928, foi editor do jornal semanal do CPC, The Worker [O Trabalhador], e da revista mensal do partido, Canadian Labor Monthly [Mensário Canadense do Trabalho], escrevendo centenas de artigos sobre a conjuntura da luta de classes, a economia política e os eventos internacionais do movimento comunista, além de promover debates e comícios por todo o país. Ao longo dos anos 1920, tornou-se o dirigente e intelectual político central do CPC, participando dos principais debates do partido e atuando como seu delegado no IV Congresso da Internacional Comunista, em 1922. Em 1923, viajou por várias cidades do Canadá, proferindo sete palestras em duas semanas e percorrendo de trem mais de três mil quilômetros. Regularmente, falava em eventos para centenas de trabalhadores, e acompanhava piquetes, greves e outros atos do movimento operário e comunista. Em seus escritos e intervenções públicas do período, Spector se dedicou a transmitir ao povo canadense os mais importantes debates e argumentos dos revolucionários bolcheviques, além de tratar de notícias políticas internacionais em evidência, como a Revolução Alemã. A partir de 1924, alguns membros do CPC passaram a se contrapor às posições da IC contrárias a Trótski e à corrente soviética Oposição de Esquerda. Spector redigiu então uma declaração de seu partido à Internacional, argumentando não haver motivos suficientes para punir Trótski. Em 1927, Spector foi o mais votado entre oito candidatos para o Comitê Central Executivo do CPC – embora no partido houvesse também muitos adeptos da IC, então comandada por Josef Stálin. No ano seguinte, seria eleito membro do Comitê Executivo da Internacional Comunista, vindo a participar do VI Congresso da organização, em Moscou (1928). À época, Spector e o delegado dos Estados Unidos, James P. Cannon, não se alinhavam ao trotskismo. Mais tarde, ambos reconheceriam que ainda não entendiam bem o que estava acontecendo na URSS e no movimento comunista internacional. Com efeito, informações sobre os debates políticos internos soviéticos eram ainda escassos e mesmo evitados pelos dirigentes da III Internacional e de seus partidos membros. Entretanto, a postura dos dois comunistas mudaria após terem contato com o documento “Crítica ao programa provisório da IC”, escrito por Trótski quando ele já havia sido expulso do partido e enviado para viver no Cazaquistão Soviético. O texto – que circulou com o aval da IC, conforme as normas vigentes do “centralismo democrático” – tinha sido traduzido para o inglês e distribuído aos delegados presentes; nele, Trótski criticava diretamente as posições de Stálin e de Nikolai Bukharin, enfatizando os problemas relacionados à defesa da ideia de “socialismo em um só pais” e a desistência, por parte do governo soviético, da política da “frente única”. Spector e Cannon guardaram cópias desta tradução e voltaram a seus respectivos países, onde passariam a discutir suas desfiliações dos partidos comunistas alinhados com a IC. Juntamente com comunistas da França, Alemanha e Reino Unido, começaram a gestar a Oposição de Esquerda Internacional – influenciada por Trótski. Em novembro de 1928, o marxista canadense, que havia sido considerado suspeito de ser simpático à oposição trotskista, escreveu uma carta ao Comitê Central Executivo do CPC detalhando seu pleno apoio às críticas feitas por Trótski à III Internacional. No mês seguinte, Spector e mais doze membros, que se puseram a seu lado, foram expulsos do partido. Diferentemente do estadunidense James CannonContinuar lendo “O marxismo de Maurice Spector”
O marxismo de Tina Modotti
Fotógrafa, jornalista, tradutora e atriz, buscou convergir estética e ética revolucionária; foi militante comunista e feminista, atuando pelo Socorro Vermelho (da Internacional Comunista), no México e em outros países Por Ândrea Francine Batista e Yuri Martins-Fontes * TINA MODOTTI; Modotti Mondini, Assunta Adelaide Luigia (ítalo-estadunidense-mexicana, Údine/Itália, 1896 – Cidade do México, 1942) 1 – Vida e práxis política Assunta Adelaide Luigia Modotti Mondini, ou Tina Modotti como ficou conhecida, nasceu numa família de operários italianos. Sua condição de vida exigiu que desde cedo trabalhasse com a mãe, Assunta Mondini Modotti, como costureira em uma fábrica. Seu pai, Giuseppe Saltarini Modotti chegou a trabalhar como fabricante de bicicletas de bambu numa pequena cidade da Áustria, mas em 1906 migrou para os Estados Unidos, em busca de trabalho, enquanto a família permaneceu na Itália. Ainda criança, Tina teve proximidade com as lutas sociais: seu padrinho de batismo, Demétrio Canal, foi integrante do círculo socialista de Udine; e seu pai, conforme ela afirma, foi um “socialista” e “firme defensor das causas sindicais”, levando-a certa vez em uma mobilização do dia 1º de maio. Conheceu a fotografia com seu tio Pietro Modotti, que possuía um pequeno estúdio, frequentemente visitado por ela. Com 16 anos de idade, em 1913, viajou ao encontro do pai, que vivia em São Francisco (EUA); desembarcou no país, justamente em um período no qual crescia a hostilidade à migração italiana – declarando-se estudante e sem vínculos com o movimento anarquista. Giuseppe assumiu o nome de Joseph, e trabalhou em sociedade num estúdio fotográfico, enquanto Tina e sua irmã Mercedez faziam serviços de costura. Encantada pela arte, Tina passou a frequentar teatros e exposições. Foi assim que, em 1915, estabeleceu relação com o pintor e poeta Roubaix de L’Abrie Richey – conhecido como Robo –, com quem se casaria. Mudaram-se para Los Angeles, onde atuou como atriz em peças teatrais, óperas e cinema; sua estreia na indústria cinematográfica se deu no filme The tiger’s coat. Com o passar dos anos e a movimentada vida artística, sua relação com Robo entrou em crise. Foi quando conheceu o fotógrafo Edward Weston, com quem aprenderia a arte fotográfica, iniciando assim sua carreira nesta área. Tina e Weston construiriam uma estreita e duradoura relação, tanto amorosa como de trabalho. Em 1921, Robo, a convite do Ministério de Educação do México, mudou-se para este país, levando trabalhos de Tina para montar uma exposição. Em fevereiro de 1922, ela se encontraria com Robo, mas recebeu a notícia de sua morte por varíola; empenhou-se, então, em concluir a mostra iniciada por ele – na Academia Nacional de Belas Artes, na Cidade do México. Em março do mesmo ano, seu pai faleceu, forçando-a a regressar aos EUA. Pouco depois, em 1923, Tina e Weston decidiram deixar os Estados Unidos, rumo ao México, animados com as possibilidades de encontrar aí um ambiente mais favorável para desenvolver sua criatividade artística e, inclusive, sua relação afetiva. Estabelecidos na capital do país, passaram a frequentar círculos de artistas socialistas, tendo logo conhecido o pintor muralista Diego Rivera (1886-1957). Em 1924, Tina posou para Weston, em um ensaio fotográfico de nudez – cujas imagens, mais tarde, seriam usadas por Rivera em alegorias de suas monumentais pinturas (no edifício central da Secretaría de Educación Pública, Cidade do México). Por esse tempo, Tina começou a trabalhar em projetos fotográficos, junto ao mexicano Manuel Álvarez Bravo (1902-2002), além de contribuir com as campanhas de solidariedade construídas pela Internacional Comunista (IC) – em que atuou especialmente contra a condenação de Nicola Sacco e Bartolomé Vanzetti (anarquistas italianos executados na cadeira elétrica, nos EUA), e no Comitê em Defesa da Nicarágua (contra a invasão estadunidense). Em 1927, Weston decidiu retornar definitivamente aos EUA; Tina permaneceu no México. Nesse mesmo ano, filiou-se definitivamente ao Partido Comunista Mexicano (PCM), colaborando com fotos e traduções para seu jornal El Machete. Considerou a atividade política com grande seriedade e consciência de suas responsabilidades. Engajada na luta revolucionária, sua fotografia tomou uma perspectiva de classe, ao documentar a vida cotidiana de trabalhadores, as lutas camponesas e mobilizações sociais. Tornou-se a principal fotógrafa do Movimento Muralista Mexicano, documentando obras de seus principais representantes – e também militantes socialistas: Diego Rivera (quem, por sua vez, a retrataria em seus murais), José Clemente Orozco (1883-1949) e Xavier Guerrero (1896-1974). Em sua casa, faziam reuniões informais para discutir o papel da arte e da literatura no processo revolucionário. Foi neste contexto que, em 1928, conheceu seu futuro companheiro Júlio Mella (1903-1929), liderança do Partido Comunista de Cuba, que se encontrava exilado no México; a relação duraria até o assassinato do marxista, no ano seguinte, por agentes do ditador cubano Gerardo Machado. Em meio às tensões políticas que caracterizaram o período, Mella foi morto em uma noite de janeiro de 1929, enquanto caminhava para se encontrar com Tina, após reunião na Seção Mexicana do Socorro Vermelho Internacional (SVI) – organização de apoio a perseguidos e prisioneiros políticos, vinculada à IC. Em meio à atmosfera anticomunista de então, além das próprias divergências entre comunistas, o assassinato envolveu muitas especulações; jornais locais chegaram a acusar Tina pela morte, mas ela foi logo inocentada, após investigação policial. Mesmo diante de um esgotamento emocional e político, ela prosseguiria firmemente sua militância no partido. No ano de 1929, Tina Modotti se envolveu intensamente com a fotografia. Na Biblioteca Nacional, fez a “Primeira exibição revolucionária do México”. Paralelamente, as perseguições anticomunistas aumentaram, impondo a clandestinidade ao PCM; as sedes do partido e do jornal El Machete foram fechadas, e vários dirigentes expulsos do país. Tina foi regularmente vigiada pela polícia até que, em fevereiro de 1930, foi deportada. O governo de Mussolini tentou sua extradição para a Itália, como subversiva, porém, por meio da ação do SVI, ela desembarcou na Alemanha – justo no momento em que se dava a ascensão do Partido Nazista e havia uma participação massiva da população em comícios de Adolf Hitler. Na Europa, dedicou-se a ações em defesa de presos políticos e realizou trabalhos clandestinos para a IC, noContinuar lendo “O marxismo de Tina Modotti”