Ensaísta, poeta, crítico de teatro, professor de Literatura e de Direito, editor e político, foi fundador do Partido Socialista de Uruguay e um dos pioneiros do marxismo uruguaio Por Natalia Tahara e Mateus Fiorentini * FRUGONI, Emilio; “Urgonif”; “Imulio Ergonif”; “Tritón” (uruguaio; Montevidéu, 1880 – Montevidéu, 1969). 1 – Vida e práxis política Emilio Frugoni nasceu em uma família com formação católica e oriunda das camadas médias urbanas, filho de Domingo Frugoni, imigrante italiano e comerciante, e de Josefina Queirolo de Frugoni, mestiça (criolla). Ainda no século XIX, aos 16 anos, Frugoni já colaborava com jornais estudantis influenciados pelo Partido Colorado, como Los Debates e El Bombo. Os conflitos que marcaram a passagem para o século XX no Uruguai são resultados de anos de polarização política entre o Partido Nacional (os blancos) e o Colorado – ambos oriundos do processo de independência do país. Durante o período que começou por volta de 1870 e se estendeu até 1904, deu-se a consolidação da formação nacional moderna e capitalista uruguaia. Foi neste cenário em que Frugoni se inseriu no mundo da política – tendo inclusive uma breve participação na guerra civil de 1897 e na revolução de 1904, nas quais lutou pelas fileiras coloradas. Por estes anos, ao lado de Enrique Rodó (expoente do pensamento nacional uruguaio) e Carlos Reyles (escritor e ensaísta), impulsionou o Club Libertad que mobilizava os jovens identificados com o batllismo, corrente política do colorado José Batlle y Ordóñez, que governou o Uruguai entre 1903 e 1907, e entre 1911 e 1915, implementando reformas sociais. O país esteve marcado, desde sua independência (1828), por conflitos entre os partidos Blanco e Colorado, que funcionavam mais como frações políticas das oligarquias, que como partidos políticos. Estes embates marcaram a entrada da sociedade uruguaia no século XX, não sendo apenas conflitos entre caudilhos, mas o momento em que teve início a construção de projetos nacionais e a consolidação das bases que viriam a fundamentar a democracia liberal burguesa no país. Desencantado com os partidos tradicionais, ainda moço Frugoni se afastou dos colorados, aproximando-se do movimento operário – de orientação socialista. Em 1904, logo após a guerra civil, vinculou-se ao Centro Obrero Socialista, agrupamento fundado em 1896, que reunia adeptos do socialismo científico. Em dezembro deste ano, em um ato público realizado no tradicional Teatro Stella d’Italia, proferiu a conferência intitulada “Profesión de fe socialista”, evento que expressou um momento determinante para a produção intelectual de Frugoni, assim como para a constituição de sua interpretação acerca da formação social do Uruguai. Nesse período, em que estudava Direito e já dispunha de certo prestígio como poeta e polemista junto aos círculos intelectuais de Montevidéu, participou de vários concursos literários e deu aulas na Facultad de Enseñanza Secundaria (1905-1907); foi também cronista teatral nos periódicos Diario Nuevo (1906) e El Día (1908-1911). Em 1910, formou-se em Direito na Facultad de Derecho y Ciencias Sociales – e, com outros companheiros, fundou o Partido Socialista de Uruguay (PS). Nas eleições deste ano, Frugoni elegeu-se deputado pela Coalición Liberal-Socialista, tornando-se o primeiro deputado socialista eleito no Uruguai – e um dos primeiros na América Latina. Ao longo de toda sua trajetória parlamentar, ocuparia o cargo por cinco vezes (1911-1914, 1920-1921, 1928-1933, 1934-1939, 1940-1942), havendo inicialmente se notabilizado por sua postura crítica ao segundo mandato de Jose Batlle y Ordoñez (1911-1915) – apesar de ter apoiado algumas de suas reformas. Foi também membro da Assembleia Nacional Constituinte, que funcionou de 1916 a 1917. Neste período de dezesseis anos na vida parlamentar, elaborou projetos sobre temas relacionados ao trabalho, como: reajuste salarial; trabalho da mulher e da criança; trabalho noturno; jornada de quarenta horas semanais de trabalho; direito à moradia para trabalhadores. Entretanto, a eclosão da Revolução Russa, em 1917, produziu um impacto determinante para os rumos do PS, bem como da trajetória política de Frugoni. A chegada dos bolcheviques ao poder na Rússia dividiu os socialistas, da mesma forma que o conjunto do movimento revolucionário uruguaio, entre aqueles que apoiavam a experiência russa, e os que a criticavam ou se opunham. Aqueles grupos que se identificavam com a Revolução de Outubro comandada por Lênin foram identificados como maximalistas, sendo liderados por Eugenio Gómez; já entre os críticos encontrava-se Frugoni, que simpatizava com os revolucionários de Fevereiro e a ala menchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Com a criação da Internacional Comunista (IC), em 1919, abriu-se nova polêmica no PS – agora em torno de sua adesão a esta organização –, o que marcaria os debates do VIII Congresso do partido no ano seguinte. No entanto, devido a dificuldades de comunicação, as 21 condições exigidas para o ingresso de partidos à IC tardaram em chegar ao Uruguai, o que reabriu as discussões que pautariam o VII Congresso Extraordinário do PS, em 1921. Na ocasião, aprovou-se por ampla maioria a adesão do partido à III Internacional, e sua consecutiva mudança de nome – passando a se chamar Partido Comunista de Uruguay (PCU). As discrepâncias com a nova linha adotada levaram ao desligamento de Frugoni, quem ainda em 1921 refundaria, ao lado de alguns poucos companheiros, o Partido Socialista. Entre 1926 e 1933, paralelamente a suas atividades políticas, tornou-se o primeiro professor da disciplina de Legislación del Trabajo y Previsión Social e diretor da Facultad de Derecho y Ciencias Sociales da Universidad de la República (UDELAR), época em que protagonizou os debates acerca da Reforma Universitária.. Devido a sua resistência ao golpe de Estado do presidente Gabriel Terra (março de 1933), Frugoni foi preso no quartel de Blandengues (Montevidéu), sendo alguns dias depois deportado para Buenos Aires. Na Argentina, foi convidado pelo reitor da Universidad de La Plata, José Peco, a ministrar um curso sobre marxismo – o que originaria uma das suas principais obras, Ensayos sobre marxismo (1936), fruto da publicação do compêndio de conteúdos de suas aulas. Em 1934, regressou do exílio ao Uruguai, dedicando-se a função de deputado, após ter renunciado ao cargo de diretor da Facultad de Derecho y Ciencias Sociales. Na década seguinte, foiContinuar lendo “O marxismo de Emilio Frugoni”
O marxismo de Emilio Frugoni
